Íntimo, pois revela mais que a superfície que estendo todos os dias. E sei que pisam nela com certa segurança, crendo que sabem em que região me encontram. Tolos eles e eu. Eu por fornecer mínimas referências, sendo omisso e descompleto e eles por tamparem as cabeças quando ouso ser mais autêntico. É a velha nota costumeira que nos agarramos para não deixarmos de ser o que melhor somos: medíocres.
Eu tenho amigos talentosos e dedicados. Talento e dedicação para mim são pares. Uma musicista que não se assume e um contador de causos assumido com sua terra. Em ambos, são ratos. Ratos necessários que invejamos por fazerem aquilo que queríamos – fuçar no lixo do mundo e dali extrai sustento, ou melhor, arte.
Sou um ser que precisa, basicamente, escrever Dar a isso que se chama papel minha parte que não se completa em apenar existir ou dizer. É uma tentação ou loucura. Creio que somos nós (escritores) vaidosos e imaturos. Eu falo de mim em tom autobiográfico escancarado. Mas, não falo de forma vulgar, aquela conversinha de puta. Dou sim, mas dou a vazão ao que existe em mim, numa amplitude que me confunde, mas me sossega.
Íntimo, pois é o que somos quando o barulho se silencia e a alma nos atropela. E não há confronto sem dor e alívio. A vida são momentos. Uns mais vindouros outros mais breves. Eu vivo melhor os vindouros, mas fico querendo os breves. É como se pudesse sem culpa apagar tudo e recomeçar. Eu tento hoje começar. Eis meus caros, meu blog que invento e acrescento não todos os dias, algo.
Difícil a tarefa de existir. Sermos pensante para viver mais e melhor conosco e com os outros. Intelectuais sem a conjuntura maçante e alienante que a ideia traz. Nós temos a oportunidade de escolher o que teremos. Daí, a crueldade ou benção de sermos, vergonhosamente, livres.